Vamos Falar Sobre: Voando Alto

eddieA dinâmica por trás de filmes biográficos sobre atletas é batida, uma velha conhecida que teve seu auge em décadas passadas e hoje se encontra em singular letargia. Um gênero que, até certo ponto, não evoluiu de forma saudável através das produções. Nenhuma formatação dissolve-se por completo, mas assim como qualquer forma de narrativa, pode alcançar um prolongado momento de estagnação, mantendo-o extremamente previsível. Existe a necessidade de reinvenção e experimentação, fazer algo novo e ousado dentro de uma proposta conhecida. “Voando Alto” (2016) consegue sintetizar exatamente este sentimento cansado e saudosista, comportando-se como algo, no mínimo, notável dentro de suas limitações, sejam elas artísticas ou financeiras.

Acompanhamos o jovem Eddie Edwards (Taron Egerton) em sua busca pelo status de olimpiano. Desde a infância até o inicio da vida adulta, o garoto cultiva um futuro que por vezes se mostra inalcançável. Visto como ingênuo pelo seu pai e com problemas motores nas pernas, Eddie usa, inconscientemente, as adversidades como combustível para seus desejos, fazendo de seu crescimento uma serie de momentos baseados na tentativa e erro, sempre em busca de uma prática esportiva que sustente e contemple suas condições. Uma vez livre de impedimentos físicos, Eddie desenvolve uma paixão platônica pelos esportes de inverno e pelo Salto de Esqui, fazendo com que vá à Alemanha em busca de local adequado para treinamento. Esnobado por uma das mais famosas equipes do esporte, Eddie se junta a Bronson Peary (Hugh Jackman), um antigo saltador americano com um passado conflituoso. Uma vez unidos, a dupla inicia seu improvável processo de treino, visando levar Edwards aos Jogos Olímpicos de Inverno.

O primeiro atrativo do longa salta aos olhos logo nos primeiros momentos: a paleta de cor e a sonoplastia evocam a conjuntura presente em uma produção oitentista, funcionando como um filtro para ditar a atmosfera da obra. Indo dos tons mais pastelados até o intenso colorido dos uniformes de esqui, a variedade é agradável e não permite o cansaço visual. A trilha sonora também brilha, tendo peças completamente sintéticas e músicas vindas diretamente da época retratada, fazendo a constante manutenção da atmosfera. “Voando Alto” se destaca por seu valor sinestésico, trabalhando de forma simples dentro de uma variedade bem arquitetada. Talvez o maior problema do filme seja exatamente este, enquanto o esforço dentro dos campos visual e sonoro é claro e sincero, a narrativa, interpretação e direção acabam contrastando de forma negativa, passando uma sensação amarga e desnecessária de preguiça.

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A narrativa começa convincente, deixando transparentes as intenções da obra, fazendo um malabarismo entre contar uma história inusitada e um tanto quanto cômica e “parodiar” o próprio gênero de filmes esportivos – sem perder o esporte em si. Contrário ao que se possa imaginar, “Voando Alto” consegue acertar neste complicado equilíbrio, fazendo-nos comprar a ideia do filme e legitimamente segurar a nossa atenção, mesmo que, no entanto, não exista qualquer risco ou oposição que evoque algum interesse narrativo. A agradável e igualmente passiva progressão discursiva começa a desandar no final do segundo ato, onde o longa simplesmente abre mão do seu valor como “paródia” e decide, por algum motivo, se levar a sério. A narrativa torna-se gratuitamente lenta, o trabalho de som transfigura-se em monotonia, deixando a interpretação cômica de Taron Egerton e a terrível de Hugh Jackman para guiar uma história que, até aquele ponto, não havia exigido maior seriedade dramática. Por mais que nos momentos finais o filme volte ao seu comportamento original, o estrago já foi feito, se tornou outra mensagem brega no meio de tantas outras.

“Voando Alto” não é um filme ruim, longe disso, têm seus charmes e originalidade ainda marcados em minha memória, o problema é a falta de comprometimento com a temperatura proposta. Quando o próprio longa desacredita em seu formato no meio do caminho, a audiência perde qualquer motivo para fazer o contrário e todo o momentum simplesmente tropeça. No final, é uma experiência satisfatória, mas algo que não faço questão de relembrar – tristemente.